O HOMEM FEDORENTO

2128135210No ônibus os passageiros viajam espremidos. Quem vai sentado dormita. Poucas conversas, raras leituras, muitos fones de ouvido. Bebê de colo e choro estridente. O cheiro do leite azedo recém-vomitado. Esfrega-esfrega. Sacoleja. Homens abrem passagem pelo corredor. Mulheres fazem cara de nojo. Ninguém percebe quando o homem fedorento entra no carro pelo desembarque. Aparenta meia-idade. Olheiras, cara macilenta, o cabelo ensebado e as roupas encardidas. Desembucha discurso ensaiado, verborrágico e miserável. Nortista, peão no canteiro de uma das intermináveis obras da Copa do Mundo. Faltou dinheiro para os empregados, rescindiram contratos e o pobre seguiu direto à rodoviária, onde entrou para os índices estatísticos como vítima de assalto. Restou a roupa do corpo e agora pede dinheiro em nome de Cristo porque necessita comprar outra passagem e qualquer trocado será bem-vindo pois dorme ao relento e hoje ainda não comeu. Maioria das pessoas faz que não escuta. Cabeças baixas, rolam telas do smartphone. Digitam em frenesi. Um sujeito grisalho puxa assunto com a senhora de cabelos ralos. Estão de acordo e insinuam. “O malandro é viciado em pedra”. Jorge pensa em ajudar, vasculha os bolsos e procura notas de pequeno valor. Também não encontrou moedas. Dentre todos os que estavam no coletivo, somente uma alma colabora. Entrega níqueis de centavo ao nauseabundo.

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