O PRODUTO DA ESCRITA

Arte: Luís Mariante.

O meu primeiro livro individual pode ser considerado uma brochura, e não uma brochada, porque a pequena publicação foi exitosa, idealizada para divulgar o meu trabalho e entregue de graça às pessoas em eventos literários como a Flip, em 2004, quando cometi o livreco “Contos para ler cagando”. O projeto gráfico ficou por conta do talentoso e inigualável Tiba Tiburski.

A segunda obra, “No Orkut dos outros é colírio”, de 2007, já era um livro com catalogação e ISBN. Foi lançado pela editora Casa Verde às minhas custas, então eu precisei correr atrás para recuperar o investimento. Teve boa repercussão na imprensa local, matérias em todos os jornais impressos de Porto Alegre. Também repercutiu em blogs literários Brasil afora. À época bem empregado, não pensava em lucro, podia bancar o luxo da pretensão autoral. Levei dois anos para vender os livros, autor desconhecido é assim mesmo. E ainda me sinto privilegiado, sei de muita gente com pilhas de livros amontoados em casa, vários anos após a publicação.

Já o terceiro, de 2017, primeiro que publiquei via contrato, recebendo os famosos dez por cento (considerado excelente percentual), cedendo os direitos autorais à editora, também repercutiu além do esperado e, por incrível que pareça, os dez por cento não renderam tão pouco, incluindo o lote de livros que pude comercializar por minha conta, para além do que recebi em dinheiro.

Estou dizendo isso porque, conhecendo os bastidores da produção editorial por colaborador de editoras como ghost writer, editor e eventualmente revisor, trabalho que procuro evitar e repasso a outros com maior habilidade para esse tipo de garimpo, não vejo vantagem alguma em pleitear a publicação de meus “mijados” em grandes editoras.

É o sonho de muitos autores (as) publicar na Cia das Letras, Record ou qualquer outra casa célebre como a L&PM. Estou inclinado a acreditar que isso rende muito cartaz e pouco retorno financeiro, embora as grandes casas editoriais tenham “pernas e braços” longos para te colocar em boas livrarias, promover cursos e palestras, oficinas ministradas pelo autor que receberá cachês. Via de regra, os livros das grandes editoras são melhor recebidos nas redações de jornal, rádio e tevê. Já chegam com o verniz ilustre. E as livrarias, isso ajuda também, têm o cacoete de valorizar nas vitrines os livros das grandes editoras. É por isso que, em tese, muitos acreditam que a grande editora pode catapultar à glória literária (o que é isto, afinal?).

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